quarta-feira, 10 de setembro de 2008

IPEA

HOJE EM DIA (MG) • EDITORIAL • 10/9/2008

Retrato da desigualdade

Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que ganhou o nome de Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, chega em boa hora, em plena campanha eleitoral que vai mudar o perfil dos municípios brasileiros nos próximos quatro anos. O estudo revela que as desigualdades sociais continuam gritantes no país, que, em uma década, tornou-se melhor mais para homens brancos. As mulheres, especialmente as pobres, ainda trabalham mais, têm jornada dupla, cuidam sozinhas da casa e recebem menos que seus colegas do sexo masculino.

O mais significativo no levantamento - realizado com base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 1993 a 2007 - é que ele traça um perfil com a nova realidade dos lares brasileiros. Constata, por exemplo, que, ao longo de 13 anos, a proporção de famílias chefiadas por mulheres cresceu dez vezes, passando de 247.795 famílias, em 1993, para 2.235.233 lares, em 2006. Uma mudança de padrões culturais deveras impactante, que merece ampla reflexão de todos aqueles que se propõem a chefiar municípios, Estados ou mesmo a própria nação.

População; chefia de família; educação; saúde; previdência e Assistência Social; mercado de trabalho; trabalho doméstico remunerado; habitação e saneamento; acesso a bens duráveis e exclusão digital; pobreza, distribuição e desigualdade de renda; e uso do tempo são os temas apontados no estudo. Todos estes itens, com certeza, servem de base para a elaboração de políticas públicas voltadas para estes segmentos excluídos da sociedade.

A pesquisa aponta, entre as causas para o aumento da participação feminina no mercado de trabalho, o aumento da escolaridade feminina, a queda da fecundidade, novas oportunidades oferecidas pelo mercado e as próprias mudanças nos padrões culturais, que alteraram os valores relativos aos papéis de homens e mulheres na sociedade. Estes dados, de fato, são um convite ao um questionamento sobre o lugar simbólico, e até então exclusivo, do homem como o provedor do lar.

Mas não são apenas as brasileiras as que mais sofrem com a desigualdade. Os negros são o mais puro retrato das diferenças de raça do país: a pesquisa mostra que eles recebem menos do que os brancos em todas as regiões do Brasil. E, como num processo em cadeia, o levantamento escancara outras formas de racismo ainda arraigadas entre nós, infelizmente. O acesso ao Ensino Médio, por exemplo, é significativamente mais limitado para a população negra. De acordo com o próprio Ipea, isso é reflexo do fato de os negros se encontrarem nos grupos de menor renda, sendo pressionados mais cedo a abandonar os estudos e ingressarem no mercado de trabalho. Realidades a serem modificadas por todos aqueles que sonham com um Brasil melhor para seus habitantes.

Com renda média equivalente à metade da obtida pelo homem branco, os negros começam a trabalhar antes, e se aposentam mais tarde. E também são grandes usuários do SUS, outra demonstração de que são, também, muito mais dependentes dos serviços públicos de saúde. Os dados sobre planos de saúde comprovam esta constatação: 33,2% dos brancos possuem planos de saúde privados, enquanto apenas 14,7% dos negros estão na mesma situação. Ou seja, ainda há muito o que se fazer no Brasil para pôr fim às desigualdades que ainda hoje perduram entre os filhos desta terra.
(grifos meus).

Bom, quanto ao cruzamento de raça e renda, não há muito que falar; a população negra é a mais pobre, sim isso já sabemos; pobreza é sinônimo de exclusão na sociedade em que vivemos, sim isso nós também sabemos; é só a pobreza que causa a exclusão de negras e negros? Ou a pobreza não é a causa da exclusão da população negra, ela é conseqüência de uma primeira exclusão?

Enfim, parece que a população negra não existe de diversas formas, ou nós estivemos em outro planeta enquanto houve “mudanças nos padrões culturais” que proporcionou “o aumento da participação feminina no mercado de trabalho, o aumento da escolaridade feminina, a queda da fecundidade, novas oportunidades oferecidas pelo mercado”. Se a mulher negra sempre trabalhou, que mudança cultural é essa? A quais mulheres são oferecidas novas oportunidades no mercado de trabalho?

Enfim....

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